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PAPÉIS DESEMPENHADOS NOS GRUPOS



O conceito de papel vem do teatro grego, onde cada máscara representava um personagem. Quando havia a troca de máscaras significava mudança de personagem. Havia uma pessoa debaixo do palco para completar as falas, caso o ator esquecesse. Vem desta ideia que o papel tem um “script” e deve ser seguido pelos atores que, interconectados, formam a peça. De forma semelhante o mesmo ocorre num grupo. Os papeis existem para dar estrutura às atividades a serem realizadas e atingir os objetivos, bem como os limites que devem ser respeitados. Esta é a parte estática do papel. O aspecto dinâmico refere-se aos seres humanos. Como cada um é diferente dos demais, vai exercer seu estilo no desempenho do papel; vai colocar seu jeito, sua marca.


Pichon Rivière definiu o papel como um modelo organizado de conduta, relativo a certa posição do indivíduo na rede de interações, ligado a expectativas próprias e dos outros. Está envolvido na aceitação e assunção de um papel o fato de que o mesmo será uma forma da pessoa vivenciar ou expressar (consciente ou inconscientemente) características e expectativas que possui.


Todo grupo tem uma estrutura que pode ser observada. Dentro desta existe a posição que é socialmente definida e indica o status de seu ocupante no grupo. As posições são claramente identificadas, pelos respectivos membros do grupo, como por exemplo: pai, mãe, filho mais novo, filho mais velho, diretor, supervisor, técnico. O papel é como o participante do grupo desempenha, sua posição.


O papel indica como a pessoa, que está em uma determinada posição, deve agir, pensar, sentir, bem como se relacionar com os demais. Por exemplo, é esperado de um pai que seja provedor, protetor e educador de seus filhos. De um gestor espera-se que tenha um bom relacionamento com o seu grupo e que desempenhe o papel de administrador de conflitos, de líder da tarefa e de pessoas. Porém, como pessoa irá desempenhar o papel considerando o seu modo de ser, será dada vida a esse desempenho e a dinâmica do grupo ao qual faz parte.


Na rotina do grupo vários papeis são desempenhados. São eles que dão forma ao como as tarefas são realizadas. O desempenho de um determinado papel influencia como os outros participantes do grupo desempenham os seus.


Existem os papéis formais ou prescritos e os assumidos. Os primeiros referem-se às tarefas que o ocupante da posição deve desempenhar. No caso do ambiente empresarial, este exige que sejam atingidas as expectativas e normas daquela instituição. Os assumidos é como são realizados os papéis prescritos. É onde o participante do grupo coloca o seu estilo pessoal.


É importante lembrar que existe uma inter-relação entre o papel e a pessoa que o desempenha. O primeiro imprime marcas no jeito de ser e a pessoa também imprime sua forma no papel. Porém, é importante prestar atenção ao fato da extrema identificação com o papel. Caso isso ocorrer, a pessoa estará exercendo em casa ou com os amigos, o mesmo papel que tem em outro grupo (na empresa, por exemplo). Assim, é importante estar atento em não ser só pessoa no exercício do papel e nem só exercer o papel, esquecendo que é ser humano. Cuidar para não levar as coisas do papel para o lado pessoal e nem o contrário. Um exemplo deste tipo de situação está descrito no final deste capítulo.




O exercício dos papéis e a sombra grupal


As posições são estáticas (mãe, pai, filho, diretor, supervisor, coordenador, analista), os papéis é que as movimentam e esta movimentação pode apresentar resultados satisfatórios ou não.


Há algumas situações que podem acontecer no desempenho dos papéis:

· quando um ocupante de uma determinada posição desempenha os papéis que são esperados e, ao mesmo tempo, são aqueles que gostaria de realizar, tanto ele quanto os membros do grupo, experimentam uma sensação de expectativas satisfeitas.

· quando o ocupante de uma posição desempenha os papéis desejados por ele, mas que não são os esperados pelos membros do grupo, haverá um movimento no sentido de rejeitar este participante.

· quando o ocupante de uma posição desempenhar papéis que o grupo espera que desempenhe, mas não são papéis desejados por ele, isso poderá levar ao desgaste físico e emocional, traduzindo-se em estresse.


É importante lembrar que tanto as posições quanto os papéis, pertencem ao grupo e não aos seus ocupantes. Um aspecto que nem sempre está claro para os participantes é que, quando uma pessoa sai, a posição e os papéis que eram desempenhados por ela permanecem no grupo, pois fazem parte do seu funcionamento. Assim, há uma expectativa de que a mesma posição e mesmos papéis sejam assumidos por um outro membro e, desta forma, não haveria alteração do funcionamento grupal. Se um novo participante vier em posição diferente ou desempenhando papéis (ou a forma de desempenho) que não os são esperados, haverá necessidade que todos revisem seus papéis. O espaço estava sendo ocupado de uma forma e agora, com o novo participante, passará a ser de outro formato. Essa necessidade de adequação poderá levar a conflitos, na medida em que a estrutura conhecida propiciava segurança, mesmo que não houvesse total satisfação com a situação anterior.


Tanto o líder do grupo, quanto seus participantes precisam estar atentos que é necessário um período para reorganização, especialmente quando houver a substituição de um gestor. Subjetivamente é esperado, pelo grupo, que o novo gestor ocupe os mesmos papéis que o anterior. Quando isso não acontecer, haverá necessidade de um período de reconhecimento, de ambas as partes – gestor e grupo.


Nos grupos em geral, vários são os aspectos que influenciam no estabelecimento de papéis. Entre eles estão as normas culturais, idade, status, nível educacional. As expectativas dos papéis a serem desenvolvidos pelos membros de um grupo variam à medida que o grupo se desenvolve.


Quando um grupo está no início ou com funcionamento menos maduro, é mais frequente o desempenho de papeis mais definidos e específicos, como por exemplo o de líder, de ouvinte, de dependente da orientação das regras e normas que precisam ser cumpridas. À medida que o grupo evolui, a complexidade das estruturas explícitas (o que está na luz, é visível) e implícitas (não facilmente perceptíveis) também aumenta e novos papeis são agregados.


Os papéis são desempenhados pelos integrantes de acordo com as peculiaridades do grupo a que pertencem. Para o funcionamento harmonioso é necessário que o papel subjetivo do indivíduo (atribuído pelo próprio) seja coerente com o que esperam dele os demais participantes. É certo que a diversidade de papéis a serem desempenhados pelos participantes de um grupo frequentemente causa tensão e conflitos entre seus membros. Tal situação pode ocasionar o abandono ou até a expulsão do integrante.


Há papéis que facilitam e outros que dificultam tanto as relações quanto as tarefas do grupo. Os últimos canalizam as energias para comportamentos e atividades não alinhada aos objetivos do grupo. São muitos os papéis, abaixo estão descritos os mais comuns a surgirem nos grupos em geral.


Papéis facilitadores

Coordenador - integrador: estabelece as relações entre as várias ideias e sugestões; seleciona as ideias-chave, procurando integrá-las num conjunto harmonioso; estimula o grupo à ação ou decisão; a mais atividades ou melhor performance.

Informador: oferece fatos, informações e generalizações ou relata suas próprias experiências nos problemas em questão.

Elaborador: apresenta sugestões; desenvolve raciocínio sobre sugestões já feitas e procura deduzir os resultados futuros de qualquer ideia ou sugestão, se adotadas pelo grupo.

Registrador: anota as sugestões, decisões e o resultado das discussões do grupo.

Sintetizador: sintetiza os pontos de vista, redirecionando a equipe, proporcionando pontos concretos sobre os quais o trabalho deve prosseguir.

Porta-voz ou denunciador: denuncia o acontecer grupal, a problemática que está ocorrendo; não fala só por si só, mas por todos.


Papéis dificultadores

Bloqueador: desvia a conversa para direções diferentes ou refuta totalmente o ponto de vista, antes de ser totalmente exposto. Discorda sem razão aparente. Procura manter aberta ou reabrir uma questão já rejeitada pelo grupo.

Sabotador: o integrante que, em determinado momento, assume a liderança da resistência à mudança.

Impostor: a verbalização e alguns comportamentos aparentam adesão e concordância com o que está sendo proposto, mas na realidade cria obstáculos e resistências, como por exemplo: nunca pode estar nas reuniões do projeto aprovado; adia a implementação, por exigir perfeccionismo ou utiliza diversos outros argumentos racionais.

Rotulador: utiliza um comportamento demonstrado e converte na identidade da pessoa, colocando apelidos.

Dominador: controla o grupo, tendo em vista sua “agenda” pessoal. Firma sua autoridade ou superioridade, manipulando o grupo através da lisonja, exibição de superioridade ou de comportamentos autoritários.

Vítima: tenta atrair a compaixão através de demonstrações de insegurança, indecisão ou autocensura.

Algoz - agressor: desaprova os valores, atos, sentimentos dos outros, ataca o grupo e o trabalho que está fazendo.

Bode expiatório: é o receptor (inconsciente) dos aspectos negativos ou atemorizantes do grupo ou da tarefa, que são depositados pelos demais participantes. Aparecem mecanismos de segregação frente a tal integrante. Este papel é positivo por ser o papel onde são depositadas todas as ansiedades do grupo e, com isso, estas são diminuídas, aliviadas. Todavia, para quem exerce esse papel, sobretudo se ele fica cristalizado, “grudado” na pessoa, é negativo. Na medida em que este papel vai sendo exercido pela mesma pessoa, esta poderá ser vista pelo grupo como: a mais frágil, a inadequada, responsável pelas situações ruins que acontecem no grupo, podendo levar à decisão de sua retirada do convívio grupal. A pessoa que exerce este papel diminui sua autoestima, utiliza menos o seu potencial, poderá ter situações de agressão ou apatia, depressão e, em alguns casos, se retirar do grupo.


É importante lembrar a necessidade, tanto para o participante, quanto para o grupo, que os papeis circulem. Quando uma pessoa (e só ela) desempenha determinado papel - facilitador ou dificultador - este se cristaliza como uma armadura no participante. Com o tempo o grupo terá dificuldades de visualizar na pessoa outros aspectos e comportamentos que não sejam os esperados no desempenho do papel. Terá dificuldade de ver o ser humano que existe e que desempenha aquele papel. Para o participante a “armadura” restringe o exercício de variadas características e potenciais que possui, ficando mais evidenciado apenas os comportamentos específicos daquele papel. Isto o tornará exímio especialista naquele papel. Porém, todas as experiências de sua gama imensa de características ficam empobrecidas, fragilizadas, pelo não exercício. Perde o ser humano, o grupo e a instituição a qual faz parte.


Case:

Dificuldades no exercício do papel de líder - Mistura com seus aspectos pessoais e risco para a empresa.


Em um momento de crise da empresa, onde se prestava consultoria no desenvolvimento organizacional através dos grupos, o diretor comentou que precisava tomar uma decisão de demissão de vários funcionários, como última medida de redução de custos, pois todas as demais alternativas não haviam sido suficientes. Contudo, estava postergando efetivar esta decisão, pois afetaria muitas famílias. Essa protelação estava produzindo nele sintomas físicos de insônia, ansiedade e úlcera.


Observou-se que esse diretor estava exercendo seu papel de forma muito misturada com seus aspectos pessoais, aprofundando as dificuldades da empresa. Após esclarecimentos do que internamente estava ocorrendo com ele e a verificação de suas dificuldades, conseguiu perceber que estava colocando em risco todos os funcionários pelos quais era responsável. Estes, esperavam e precisavam da continuidade da empresa. Com a clarificação dos aspectos subjetivos que o estavam afetando, percebeu que, naquele momento, a decisão mais acertada era esta e que precisava ser tomada. Conversou com seu grupo e, com sua transparência nas explicações e solicitação de ajuda na implementação do processo, foi possível conseguir executar as decisões, as recolocações dos funcionários desligados e a reestruturação da empresa.


O futuro mostrou que as decisões foram acertadas, uma vez que a empresa voltou a crescer e muitos puderam voltar a fazer parte dela. Esse exemplo mostra a importância do equilíbrio no desempenho dos papeis no decorrer da vida.

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